O trem de ferro como trilha condutora de memórias de idosos: a ação sociocultural como aproximação etnográfica

Resumo

Vivencia-se hoje uma nostalgia pela substituição das ferrovias pelas rodovias e pelo fim das viagens de trem. Entretanto, é possível inferir que o lamentado fim da primazia dos trens e da falta de investimento atual nas estradas de ferro para transporte de passageiros não representa o fim de sua história. A permanência na memória daqueles que utilizaram esse meio de transporte pode ser atualizada por novas experiências. Este artigo relata uma atividade sociocultural desenvolvida com idosos, no âmbito da extensão universitária, que teve como objetivo utilizar um passeio de trem de ferro como turismo sócio-histórico e objeto mediador da evocação do passado, uma sensibilização do olhar e da memória provocadas por uma ação externa. Constituiu-se uma atividade de lazer, utilizando uma metodologia participativa, para favorecer a emergência de sentidos e significados inerentes à existência humana que devem ser percebidos. Ficou evidenciada a diversidade de experiências passadas em relação a esse meio de transporte, durante uma viagem de três horas entre duas cidades do Vale do Paraíba Paulista e a importância das ações socioculturais destinadas aos idosos, por possibilitarem comparação temporal entre as várias dimensões da vida na sociedade urbana e rural da região, e uma (re) descoberta da realidade circundante. Confirmou o valor da memória como método de intervenção que confere sentido ao passado, noção de continuidade e de pertencimento ao grupo social, fundamental na construção da identidade. Como ação socioeducativa planejada, cuidados éticos foram adotados, pelo fato de o processo implicar esforço individual e coletivo dos envolvidos.