EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA:
REPRESENTAÇÕES SOBRE LÍNGUA, GRAMÁTICA E VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
Resumo
Este trabalho busca identificar e interpretar as representações sobre língua, gramática e variação linguística presentes no livro Emília no País da Gramática (1934/2008), de Monteiro Lobato. A escolha do livro infantil parte do fato de Lobato apresentar uma linguagem criativa e discutir explicitamente questões linguísticas, refletindo sobre a língua numa perspectiva que surgiria mais tarde com os estudos linguísticos modernos, e contribuindo com a educação linguística das crianças. Para se alcançar o objetivo desta pesquisa, discutem-se conceitos de língua, gramática e variação linguística, e apresenta-se o conceito de representação adotado. Com base no Interacionismo Sociodiscursivo, representação é a reestruturação do agir humano por meio de figuras interpretativas construídas nos e pelos textos. Assim, considera-se que posicionamentos sobre objetos tematizados em enunciados podem ser observados a partir da análise de textos. De posse desses pressupostos, analisam-se os diálogos de Emília com as outras personagens, com base no modelo de análise de texto de Bronckart (2003). Os resultados revelam vozes discursivas que veem a língua como um construto social, vivo e dinâmico, sujeito a alterações no decorrer do tempo, e que criticam o academicismo gramatical da primeira metade do século passado na fala das personagens, de forma mais severa nas indagações de Emília, que demonstra habilidade intelectual e linguageira atreladas ao domínio sobre a língua, opondo-se à artificialidade e ao engessamento da gramática padrão e apresentando uma linguagem própria, a Língua da Emília, constituída de variações linguísticas.