No modo de enunciação escrito, as crianças são invariavelmente afetadas pela necessidade endereçar seus enunciados a um destinatário, já previsto nos próprios gêneros discursivos produzidos por elas, como propõe Bakhtin (2011). Por vezes, nessa tarefa, as crianças endereçam um mesmo enunciado para mais de um outro/destinatário, gerando oscilações no endereçamento. Neste artigo, são justamente apresentadas reflexões sobre as possíveis motivações para a existência de oscilação no endereçamento em enunciados escritos infantis. Foi desenvolvida uma análise quanti-qualitativa de 180 enunciados, escritos por crianças do Ensino Fundamental I, a partir de seis propostas de produção textual. A análise pautou-se em referencial teórico formado, principalmente, pelos trabalhos do Círculo de Bakhtin, Corrêa (2004, 2006, 2011, 2013) e Autor X e Oliveira (2014) e foi direcionada por princípios teórico-metodológicos inspirados no Paradigma Indiciário, como proposto por Ginzburg (1989). Pudemos observar que a instituição escolar seria um dos principais fatores motivadores das oscilações no endereçamento, tanto pela força da cena enunciativo-pragmática na qual os enunciados foram produzidos, quanto pela força discursiva exercida por ela na representação do escrevente sobre o outro/destinatário a quem (seu) enunciado deve dirigir-se.
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