CORPO, VIRILIDADE E DESEJO: AGENCIAMENTOS ENUNCIATIVOS EM DUAS CENAS DA PROSTITUIÇÃO MASCULINA BRASILEIRA
Abstract
Embora a promulgação da prática de sexo tarifado como uma atividade laboral, a prostituição ainda encara e é encarada de modo fetichizado, como um tipo de modelo pelo qual deve ser realizado, a fim de justificar o modo rechaçado pelo qual é tratada. Na prostituição masculina homoerótica, esse modelo materializa-se pela dispersão de um conjunto de enunciados corporificados acerca da virilidade, pois esta institui os corpos como desejáveis ou marginalizados que comporão a hierarquia do regime de desejabilidade em diferentes espaços sociais, como as ruas e as saunas. Diante da demanda de exercício corporificado de virilidade, os integrantes da dinâmica de sexo tarifado precisam agenciar os traços constituintes de suas performances, a fim de estimular o desejo do cliente-em-potencial e lograr êxito em sua empreitada interacional. Assim, objetivamos analisar quais os agenciamentos enunciativos realizados por michês e garotos de programa em duas cenas da prostituição brasileira, pontuando as reiterações e rearranjos sobre a virilidade. Para isso, mobilizamos as noções de agenciamento enunciativo (MAINGUENEAU, 2020), performances de gênero (BUTLER, 2019), interseccionalidade (AKOTIRENE, 2020). Constatamos a regência da prostituição a partir do agenciamento das formas de significação dos traços interseccionais em raça, classe, localização geográfica e valoração da atividade laboral. Por um lado, como condicionantes, impondo modos restritivos de materialização do corpo viril; por outro, de rearranjos enunciativos, em que pares binômicos são operados de modo flutuante entre as conotações estereotipas e suas ressignificações, sem perder de vistas o manejo com os traços que integram os sujeitos à dinâmica de sexo tarifado.